sexta-feira, 25 de abril de 2014

O Último

Hoje acordei estremunhado, talvez um pesadelo, talvez um sonho. Sonhar tem sido tão raro na minha vida, talvez não tenha suportado a ideia de beleza e tenha despertado para este mundo que me reflecte na escuridão. Lavei a cara para despertar e no espelho vi o mesmo desconhecido que habita em minha mente. Mudara-se para cá quando deixei minha casa de infância, ou talvez tenha sido eu quem chegou depois.

A vontade de ir trabalha é nenhuma. Já estou atrasado, levarei uma reprimenda do chefe de serviço, a qual ouvirei sem protestar. Protestar é mais uma das coisas que já não faço. Já não há por que lutar. Tudo me é tão indiferente quanto eu sou indiferente a tudo. A única reacção que as coisas me provocam é um longo e demorado bocejo que faço por evitar enquanto oiço o sermão.

É ali naquele meu cubico, onde faço trabalho administrativo que aborreceria muita gente, mas que confesso o faço até com alguma satisfação, mas é ali, rodeado dos meus sonoros e estridentes colegas de trabalho que têm sempre as emoções espelhadas no rosto, que têm sempre algo para dizer, que se admiram com as coisas banais da vida, que se entusiasmam com quase nada, é ali junto deles que me anulo. Ali não sou nada. Uma mera peça de uma maquina fria e insensível. E os olhares atravessam me como mais uma porção de ar no caminho de alguém.

Sou frequentemente o ultimo a sair do trabalho, o chefe dera me a "honrosa" tarefa de fechar a sala, talvez para premiar a minha "assiduidade". Sendo o último, é do penúltimo de quem oiço um "Adeus".

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