sexta-feira, 18 de abril de 2014

Conto do Homem Só

Oh homem só quem és tu? Quem és tu que ninguém sabe quem és, ninguém te conhece, nem a ti nem aos teus pais, irmãos ou amigos. Quem és tu que ninguém te conhece o passado, onde nasceste onde cresceste, onde e com quem viveste. Quem és tu que ninguém sabe dizer onde estavas e o que fazias na noite anterior, na hora anterior ou mesmo o segundo anterior. Quem és tu que toda a gente te vendo não existes para nenhuma dessas pessoas.

E no entanto não evito olhar para ti quando passas na avenida, andas sem pressa a um ritmo constante, numa linha rigorosamente recta, olhando em frente mas vendo muito para lá do horizonte. Ah esse olhar, podera eu descreve-lo e redefiniria o conceito de beleza. Não é a cor, nem o tamanho nem a forma, é a luz, uma luz negra em que tudo penetra, são olhos que vêm outro mundo, um onde a existência é plena e solitária, como aparentemente és tu.

Afinal para onde vais? Que lugar é esse onde encontraste a vida? Porque não revelas o teu segredo? Já eu não tenho onde ir. Entretenho me a sonhar com a vida que passa pela rua como tu, sem origem e indiferente a mim. Que faço aqui, sentado nesta esplanada no meio da avenida vendo as pessoas passar? Que faço à noite acordado quando toda a gente já está a dormir? Porque penso tanto na vida em vez de a viver.

Amanhã vou chegar atrasado ao trabalho, vou ficar na cama a imaginar que sei quem sou.

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